2 de março de 2008

PRODUTOR EXECUTIVO E EX-PRESIDENTE FUNDADOR DO STUDIO GHIBLI TOSHIO SUZUKI REVELA A ESTÓRIA POR TRÁS DE PONYO

Na edição de março da revista japonesa, Cut, foram revelados mais detalhes por trás da estória e a história do novo filme do Hayao Miyazaki, Gake no eu no Ponyo (崖の上のポニョ, Ponyo no Rochedo [?]). A revista internacional mostra uma entrevista de três páginas muito interessante com o produtor do Studio Ghibli e logicamente GhibliWorld.com apresenta um resumo de leitura obrigatória traduzido para o português por Go-Panda.blogspot.com.

P: Quando vocês decidiram produzir Ponyo? Não foi logo depois de O Castelo Animado?

Suzuki: Foi durante o verão de 2005 e a produção mesmo começou em Outubro de 2006... Um dia Miyazaki me perguntou que gênero de filme fazer e eu propus que o próximo filme deveria ser feito para as crianças. “Que tal fazer alguma coisa do tipo Iya Iya En?

(Nota: Iya Iya En é um livro ilustrado escrito por Rieko Nakagawa (中川李枝子) e desenhado pela sua irmã, Yuriko Yamawaki. A historia fala sobre crianças que vivem numa creche. Todas as creches no Japão tem uma cópia do livro, que é substituída todos os anos.)

Eu acho que esse deve ser o livro mais vendido no Japão. Quando eu era um estudante, eu li o livro e gostei muito dele e, como Miyazaki era novo, ele também gostou muito. Nós conversamos sobre o fato de que seria legal se nós pudéssemos transformá-lo num filme. Apesar disso, o livro já havia sido publicado há muito tempo e várias outras pessoas haviam se oferecido para fazer um filme sobre o livro, mas as autoras não aceitaram e nem concordaram com isso. Enquanto nós estávamos produzindo Totoro, nos perguntamos sobre quem deveríamos pedir para escrever a letra da música tema. Miyazaki e eu exclamamos ao mesmo tempo “Rieko Nakagawa!” Assim, ela escreveu Sanpo para nós e ficamos muito felizes.


Depois disso, nós criamos o Ghibli Museum e
planejamos fazer alguns curtas-metragens. Miyazaki propôs Iya Iya En e então eu pedi a Nakagawa pela sua autorização. No final acabamos produzindo o curta, mesmo que tenha sido apenas uma parte dos episódios. Foi chamado de Kujira-tori (くじらとり, A Caça às Baleias [?]). Dessa vez, entretanto, Miyazaki quis fazer a história completa num longa-metragem e começou a prepará-lo.


P:
Falando na música tema de Totoro, a maioria daqueles lendo essa entrevista devem achar que é fácil alguém aceitar escrever as letras se o mestre Miyazaki é quem esta pedindo. Apesar disso eu não acho que tenha sido, pois naquela época o Studio Ghibli não era muito conhecido.

Suzuki: De fato, Nakagawa não sabia nada sobre nós e não foi fácil convencê-la a aceitar.

P: Quer dizer que o Studio Ghibli e o Miyazaki não tinham o poder de marca naquele tempo, certo?

Suzuki: Certo.

P: Mas então, Ponyo começou como uma versão animada de Iya Iya En?

Suzuki: Isso mesmo. Na verdade, eu nunca falei sobre isso... ...

P: Sem problemas, continue!!

Suzuki: Miyazaki é uma pessoa que sempre foi muito influenciada pelos lugares onde ele morou ou visitou. Por exemplo, depois de ele visitar Yakushima ele criou Nausicaä e ele teve a idéia de fazer Kiki depois de visitar a Suécia. Além disso, alguns dos filmes Ghibli são ambientados nos arredores de Tama (多摩, um subúrbio oeste de Tokyo), mas nós já nos enjoamos de lá.

(Nota-GP: Yakushima é uma ilha japonesa coberta por uma antiga floresta, muito bonita, considerada um patrimônio mundial.)

Algum tempo atrás, nós tivemos um tour de três dias e duas noites com 250 pessoas para uma pequena cidade em Setonai-kai. No começo, Miyzaki não quis ir junto, mas viajou mesmo assim e gostou muito do lugar. Pra dizer a verdade, eu sabia que ele gostaria. Não muito depois disso, ele disse que gostaria de morar lá por um tempo, então eu arrumei tudo para que ele vivesse lá por dois meses. A imaginação dele começou a crescer... Depois que ele voltou para Tokyo, ele me trouxe uma idéia. “Que tal ao invés de Iya Iya En, Gake no Shita no Iya Iya En (A Creche Não-Não no Rochedo [?])? Isso foi porque a casa onde ele morou era em um rochedo. E uma vez ele me disse “Esse é o sonho da minha vida...” Pra dizer a verdade eu não estou autorizado a falar isso...

P: Sem problemas, vá em frente!

Suzuki: Ele disse, “Não tem sentido fazer a história de uma creche em um filme.” Eu perguntei a ele “O que você quer dizer?” e ele respondeu “Eu quero fazer uma creche real na nossa empresa!”. Naquela época, muita gente da companhia teve filhos e finalmente fizemos uma creche dentro da empresa. O ekonte (storyboard) da história de Iya Iya En feito por Miyazaki era bem pequeno, então desistimos dele e a creche real será aberta em abril. Ela foi construída perto do atelier do Miayzaki chamado Nibariki (二馬力, 2 cavalos, um nome inspirado no Citroën 2CV, um dos carros do Miyazaki.) Na verdade, por mais de dez anos ele teve vontade de construí-lo. A esposa dele também veio até mim e disse, “Esse é o sonho mais importante do Miyazaki, por favor, ajude-o.” Eu estou cuidando disso, mas enquanto trabalho fico pensando “O que estou fazendo?”.

P: Miyazaki parece realmente gostar de crianças. Por causa disso, é mais fácil de entender Ponyo. Nele, um peixe dourado quer virar humano e parece ser um filme comum mostrando o dia a dia das crianças e seus pais educando-as, certo?

Suzuki: É realmente um filme comum. A estória é muito simples, misturando uma antiga história e A pequena Sereia. Uma jovem peixe está nadando quando prende sua cabeça num pote. Não conseguindo se soltar, ela é levada até a praia e é achada por um garoto de 5 anos. O garoto ajuda-a e eles logo se apaixonam. E para onde a estória vai depois? É como Urashima Taro. Como a história é muito simples, nós estamos nos focando em sua expressão para deixá-la mais complexa e detalhada.

(Nota-GP: Urashima Taro é o nome de um pescador de uma leda japonesa. Na lenda, o pescador, salva uma tartaruga e em troca, foi lavado a um reino do mar. Apesar de feliz, lá, ele sente saudades de casa e resolve voltar. Ao chegar em sua cidade, descobre que todo que conhecia já haviam morrido e ninguém mais se lembrava dele. Desesperado, ele abre um caixa confiada a ele que fez com que os anos passassem também para ele.)

P: Ouvimos que vocês estão aderindo novamente ao desenho feito à mão.

Suziki: Durante essa década, CG (técnica de desenho digital) apareceu e percebemos que isso nos permitiria fazer expressões mais detalhadas se usada como um suplemento às animações manuais. Por outro lado, um novo problema apareceu. O progresso da tecnologia digital é tão rápido que é difícil de ser acompanhado. Se um filme é feito com a mais nova tecnologia, ele vai ficar desatualizado dentro de pouco tempo. E há mais uma questão. Nós usamos CG em O Castelo Animado. As pernas do castelo, por exemplo, foram feitas assim. Apesar disso a animação não me pareceu natural e eu disse ao Miyazaki que a habilidade dele é melhor que a do computador. Ele aceitou isso e desistiu de usar CG. Por isso, a segunda metade de O Castelo Animado não usa CG. Nós sabemos que CG tem pontos positivos e negativos. O tema desse filme é simples como a estória, assim como os efeitos visuais, o que por outro lado exige um trabalho árduo para que todos os desenhos sejam feitos à mão.

P: Que impressão você tem do filme? Você diria “Você vai com certeza se surpreender!”?

Suzuki: É estúpido dar crédito a um filme incompleto, não é? Apesar disso, eu tenho um palpite de que Ponyo pode virar uma obra-prima.

P: Ouvindo isso, eu também sinto que vai.

Suzuki: Miyazaki basicamente tem um ponto de vista que enxerga a essência dos seres humanos na natureza. Ele também tem o dinamismo das estórias de coragem. Ele consegue manter essas duas habilidades.


P:
O filme tem, então, um resultado diferente comparado com, por exemplo, O Castelo Animado?

Suzuki: Acho que sim. Simples, porém intenso.

P: Eu acho que a nova história do Miyazaki pode começar desse ponto. Acho que o desenho à mão não é, por todo, apenas o resultado, mas também a causa dele.

Suzuki: Talvez sim. Miyazaki não decai, apesar de sempre dizer que está decaindo. É uma mentira. Ele cria as animações por si mesmo. Se alguém mais habilidoso aparecer, ele não vai mais conseguir se manter. Mas ninguém consegue superá-lo. Isso é ao mesmo tempo um prazer e uma preocupação para ele.

P: O Miyazaki ser bom em desenhar aviões, mas como ele desenha a água que simplesmente… existe?

Suzuki: Só por dizer: 80% do filme é o oceano.

P: Mesmo?

Suzuki: As ondas são um tema importante. Ele nunca faz outros desenharem as ondas. Ele desenha todas por si próprio. Ele está pensando para achar um jeito melhor de desenhar as ondas e o mar. Eu não sei se isso funciona bem.


P:
Ouvindo isso, eu sinto que poderemos ver “outro” Miyazaki

Suzuki: O visual do filme está diferente. O público normal pode dizer “Aha... esse é um Miyazaki diferente do qual eu estou acostumado…” Os planos de fundo também estão diferentes. Estão menos manipulados. Eu acho que isso está indo muito bem. Para dizer a verdade, eu quase achei que o Miyazaki estava acabado.

P: *risos* Eu vou incluir no artigo, ok?

Suzuki: Ele já tem 67 anos. Fico imaginando onde ele tinha Escondido essa força tão grande.

P: Quando você achou que ele estava acabado?

Suzuki: Eu não achei exatamente isso. Pensei que as pessoas obrigatoriamente envelhecem. Generalizando, diretores de cinema produzem seus melhores filmes durante seus 40 e poucos anos. Os cinquentões e sessentões geralmente tendem a decair. É possível evitar isso? Miyazaki sempre fala “Até quando posso fazer isso?” Apesar disso, dessa vez ele está fazendo um filme realmente juvenil. Dessa vez ele realmente não usa sua especialidade, a aviação. Mesmo assim, é muito interessante.

P: Estou certo que ele não precisa. Você acha do filme sair mesmo em Julho? Vai dar tudo certo? (O Castelo Animado atrasou 3 meses e não pôde ser lançado nas férias de verão).

Suzuki: Dessa vez estou 100% certo. Eventualmente teremos um atraso, mas será muito sutil. Pode apostar.


2 comentários:

Anônimo disse...

"É como Urashima Taro."
Nossa... Há quanto tempo eu não ouvia esse nome. xD
Eu tenho o livro dele em casa, mas eu nunca soube da história, tentava deduzir pelas imagens porque estava tudo escrito em japonês. 8D
Mas enfim... Parabéns pela tradução e pelo blog, André. ^^
Consegui me divertir durante um bom tempo lendo este post. :}
Parabéns mesmo. o/

Anônimo disse...

Nossa mto bom!
Parabéns pelo blog, difícil encontrar conteúdo sobre esse artista e estúdio maravilhoso em português!
Parabéns!