Pergunta: Ouvimos dizer que esse é o primeiro concerto em que você vai tocar somente músicas dos filmes do Miyazaki.
Hisaishi: É uma coisa que eu queria fazer faz algum tempo…
P: Além disso, você conseguiu juntar um grupo muito grande para o concerto. Serão 200 pessoas na orquestra e 400 pessoas no coro.

Hisaishi: A proposta de juntar tanta gente foi minha, mas sei que não será fácil...
P: Faz 25 anos que você trabalha junto com o Miyazaki...
Hisaishi: Nós nos conhecemos durante a produção de Nausicaä (1984). Para dizer a verdade, eu não tinha idéia de quem ele era antes disso. Quando eu fui vê-lo em seu escritório em Asagaya, ele nem se incomodou em me esclarecer sobre o cenário ou ambiente do filme como o “Ohmu” ou o “Fukai”, então eu fiquei um pouco confuso. Apesar disso, eu fiquei com a impressão de ele ser uma pessoa muito pura e audaciosa.
Suzuki: Na verdade, a pessoa que escolheu o Hisaishi foi Takahata (o produtor de Nausicaä). Ele disse que a música do Hisaishi combinaria com Miyazaki por ser inocente, romântica e audaciosa. Como o Miyazaki pensava estar no escuro para a música, ele confiou essa tarefa ao Takahata.
Hisaishi: É verdade. Minhas reuniões eram principalmente com Takahata. Ele me surpreendeu com um grande conhecimento musical.

Suzuki: Apesar disso, Takahata acreditava que o compositor da obra deveria ser trocado de filme para filme. Por isso ele tentou pedir para outra pessoa durante a produção de Laputa, mas no fim, ele decidiu permanecer com Hisaishi.
Hisaishi: Naquela época eu já havia quase desistido de poder trabalhar novamente. Fiquei muito feliz quando recebi a ligação. Eu chorei com o telefonema.
Suzuki: Uma das cenas e músicas mais memoráveis de Totoro é aquela em que a Mei e a Satsuki encontram o Totoro no ponto de ônibus. No inicio, Miyazaki achava que a cena não precisava de música, mas eu achei ficaria melhor com e fui conversar com o Takahata escondido. Ele me disse que com uma música minimalista ficaria bom, e isso era algo em que o Hisaishi é bom. Ele, então, compôs a musica com excelência e até para os adultos a cena mostrou a real existência do Totoro. Assim o Miyazaki concordou com a música.
Hisaishi: Ouvindo isso me sinto obrigado a tocar essa música. Será usada uma grande tela no concerto, pois eu quero tocar junto com as imagens.
P: Qual é, normalmente, o seu processo de criação?
Hisaishi: Eu assisto aos E-kontes ou ao filme, como se estivesse andando em um nevoeiro procurando por um gatilho que dispare minha mente. Esse é o primeiro passo. Quando consigo achar, começo a trabalhar para achar um timbre, qual o tipo de tema ou melodia usar... ou coisa do tipo... De qualquer forma, são muitas preocupações. O ponto mais importante é estar consciente de que eu o primeiro expectador.
Suzuki: Acrescentando, você não tem tempo suficiente para fazê-lo. Geralmente, no Japão, a música é adicionada depois do término dos desenhos.
Hisaishi: Agora está acontecendo exatamente isso (risos).

P: Como está progredindo a trilha de Ponyo?
Hisaishi: Como o protagonista Sosuke tem somente 5 anos, a música também deve ser assim. Uma música com melodia mais simples consegue penetrar em uma mente perspicaz, então estou me esforçando para achar um jeito de expressar o Sosuke. Apesar disso, dessa vez eu tive uma discussão com o Miyazaki e o Suzuki para fazer o image algum e eu sinto que estamos trabalhando nisso juntos. O problema é quando o Miyazaki for ouvir.
Suzuki: É mesmo. Ele geralmente não esquece a primeira impressão.
Hisaishi: Não importa o quanto eu o diga que se trata de um demo, ele não consegue esquecer a primeira impressão. No caso de Mononoke, eu mudei a música tema de volta para a original. Curiosamente, no fim foi uma boa decisão. Miyazaki sempre diz que ele não entende de música, apesar de eu não acreditar que seja verdade.
P: O pôster do concerto é original do Miyazaki?
Suzuki: Eu pensei que ele iria apenas desenhar algo simples com uma caneta, mas ele está se esforçando para pintar o Hisaishi. Ele costuma perguntar, “Como é o rosto dele?” Ele pos várias fotos suas em volta de sua mesa.

Hisaishi: Eu nem tenho como agradecê-lo.
P: Como será a programação?
Hisaishi: Se eu realmente fizer, quero mostrar todos os 9 filmes, de Nausicaä até Ponyo. Eu revi as antigas partituras e assisti novamente a todos os filmes. Eu sinto a grandiosidade das imagens e quero acompanhá-las com minha música. Tocaremos músicas que nunca toquei antes em concertos. Talvez vocês possam aproveitar a força da originalidade.